quarta-feira, 3 de novembro de 2010

PdC - Novembro 2010




Neste número de Perspectivas de Comunhão, desejamos aprofundar nossa reflexão sobre a encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in Veritate. Através da apresentação de alguns trechos deste documento, desejamos destacar a importância do verdadeiro conceito de pessoa humana, fundamental para o verdadeiro desenvolvimento.

O Papa afirma que “hoje a questão social tornou-se radicalmente antropológica, enquanto toca o próprio modo não só de conceber, mas também de manipular a vida” (CV n. 75).

O conceito de pessoa

A origem etimológica da palavra pessoa vem do latim, de resonare, que significa “ressoar”. O termo pessoa inicialmente indicava a máscara teatral utilizada pelos atores, seja para se caracterizar, seja para amplificar a própria voz. A cada máscara correspondia uma voz diferente e, portanto, as vozes não se confundiam entre si.
O conceito de pessoa não está presente no Novo Testamento, mas coloca-se no cenário geral da Aliança, onde o homem é chamado a ser o partner de Deus. Em contato com o mundo grego, esse conceito sofreu a influência de uma visão individualista. O desenvolvimento cristão deste conceito chave se deu principalmente no contexto das controvérsias trinitário-cristológicas, que estavam na origem dos sete primeiros concílios ecumênicos. Tratava-se principalmente de se defender das acusações de politeísmo e de frear as várias heresias cristológicas, que tendiam a negar ora a humanidade, ora a divindade de Cristo. Deste modo, a Igreja afirma que Deus é uma única natureza em três Pessoas. Desta tese emerge o conceito de pessoa como relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo no interior de Deus e, portanto, relação com os homens.

Acento sobre a relação

A reflexão posterior ao Concílio de Nicéia coloca o acento sobre a “relação”, pela qual a substância
divina (as três Pessoas da Trindade) existe na relação recíproca. Segundo Santo Agostinho, no microcosmo humano encontram-se analogicamente os traços das três Pessoas divinas. Assim, por analogia entre o Criador e a criatura, o termo pessoa é aplicável ao próprio homem. Deste modo podemos entender mais facilmente a afirmação dessa encíclica de que “Deus é o garante do verdadeiro desenvolvimento do homem, já que, tendo-o criado à sua imagem, fundamenta de igual forma sua dignidade transcendente e alimenta seu anseio constitutivo de ‘ser mais’” (CV n. 29). Por isso mesmo, “o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade: com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida econômico-social” (CV n. 25).

Somos se amamos

Como as Pessoas da Trindade, também nós, seres humanos, somos chamados a sair de nós mesmos para ir ao encontro do outro. Deste modo, quando não somos (fechados em nós mesmos) então somos, na relação de amor.

Padre Antonio Capelesso - Editorial Perspectivas de Comunhão, Ano XIX, Novembro de 2010, nr. 10.