terça-feira, 3 de abril de 2012

PdC Abril de 2012



Editorial

Antonio Capelesso

Alguns autores, como Giuseppe Zanghí, referindo-se à mudança de época que estamos vivendo, falam de
um grande momento de passagem, na história da humanidade.

Período mítico
Segundo esse autor, o primeiro grande período teve início com a origem da humanidade e se estendeu até
sete séculos antes da vinda de Cristo. Este é designado como o período mítico.
A humanidade fazia uma experiência semelhante à da criança que, enquanto se encontra no seio materno,
ainda não tem consciência de sua distinção pessoal e vive em profunda unidade com a mãe. Nesse período do mito a humanidade era nômade e vivia uma comunhão profunda com o cosmo.

Afirmação do indivíduo
Depois disso acontece como que um salto na vida da humanidade. Na Grécia surge o desenvolvimento da
filosofia, na Palestina aparecem os grandes profetas como Isaías, Jeremias, que representam um grande avanço.
Na Mesopotâmia temos Zoroastro, na Índia as Upanishad as grandes reflexões téo-filosóficas, temos a figura de Buda. Na China temos Confúcio, Lao Tze e outros. A história humana dá início a um novo momento comparável ao do nascimento da criança, quando ela vai tomar consciência de si, distinguindo-se claramente da mãe.
A humanidade se descobre como eu-sujeito, como indivíduo, e busca, neste período, recuperar a unidade com o cosmo, como a criança com a mãe.
Essa cultura que teve início setecentos anos antes de Cristo agora está morrendo. O ser indivíduo levado
ao radicalismo não responde mais à realidade de hoje.

A unidade
Hoje está emergindo um novo período cultural que busca a integração com as pessoas. Como sabemos,
Deus doa um carisma para responder às necessidades do momento presente. Na experiência de Chiara e Igino Giordani que conhecemos como “paraíso de 49” emerge uma experiência comunitária, fruto da vivência da Palavra de vida, sobretudo da Palavra totalmente revelada que é Jesus abandonado, a experiência de viver no seio do Pai.
Agora, com a maturidade do homem que adquiriu consciência de si mesmo, no segundo grande período
de nossa história, é como se a criança retornasse ao seio da mãe, ou seja, tendo consciência de nossa individualidade somos chamados a viver no seio do Pai, na plena comunhão.
Como aprofundaremos abaixo, no artigo de Giuseppe Maria Zanghí, Anotações para uma teologia de Jesus
Crucificado e Abandonado, “no Ser se entrevê um não, um nada, sem o qual, no Ser, seria impensável e impossível aquela relacionabilidade que Jesus revela. É o próprio evento do abandono que abre para essa compreensão. No Ser abre-se uma fresta, uma chaga, na qual o Ser revela o seu mistério profundo, e nós temos acesso a ele. Podemos
penetrar no Ser! Para superar a aparente contradição é necessária a abertura a uma lógica que nasça ela própria do Ser chagado! De fato, esse não-Ser que abre o acesso à interioridade do Ser é ainda e sempre Ser; se fosse não-ente, não poderia abrir nenhuma passagem. Esse não-Ser é, sim, Nada, mas um Nada que é! O Amor”.
Aproveitemos este mês em que celebramos a Páscoa de Cristo para aprofundar o mistério de Jesus crucificado e abandonado, raiz da cultura da unidade. Depois do período do logos, da filosofia, da palavra, estamos entrando em outra época, a da unidade. O mundo espera o surgimento da cultura da unidade.